Quantum Bird – 30 de julho 2024
A atitude geral das autoridades brasileiras em relação às eleições na Venezuela pode ser resumida em um misto de covardia, ingerência e viralatismo.
Desde a chegada de Hugo Chaves ao poder, em 1999, até os dias atuais, a atitude das autoridades brasileiras em relação à Venezuela oscila entre a ambiguidade hipócrita e a hostilidade aberta, decorada com tons fortes de histeria. Incluindo certos quadros notórios, e uma parcela da militância mais ampla, da esquerda nativa, dos quais se esperava uma atitude diametralmente oposta. Afinal, quem, mais do que os venezuelanos, desafiou tão aberta e eficazmente o Hegemon na América do Sul?
Indo diretamente ao ponto. Qual o papel esperado do Brasil, uma suposta potência regional e membro fundador dos BRICS, em relação às eleições na Venezuela? Certamente, não o de condicionar o reconhecimento dos resultados das eleições a escrutínio e considerações adicionais. Mesmo porque, qual eleição na história política do Brasil não foi ameaçada com golpes de Estado, contestada pela oposição ou teve denúncias de fraude? Os partidários do governo atual passaram os últimos 8 anos acusando os governos anteriores de golpismo e ilegitimidade. Em 2023, uma semana após a posse de Lula, eles tiveram o Congresso Nacional invadido por militantes da oposição. Uma bela bagunça não? Ou seja, com qual moral se arrogam a questionar as eleições venezuelanas?
A conversa fiada sobre os resultados sendo contestados pela oposição, a necessidade de fortalecer a democracia, e a agitação violenta nas ruas – financiada por ONGs internacionais, promovida por gente de rosto coberto e, muitas vezes, reivindicada por gangues criminosas locais — é um filme já visto e repetido ad nauseum globalmente. O roteiro se chama “Guerra Híbrida: revolução colorida e mudança de regime” e constitui uma doutrina padrão das agências de inteligência do Hegemon para desestabilizar países que ousam exercer a soberania.
Será que a liderança brasileira não está a par das declarações recentes, e particularmente honestas, da General Laura J. Richardson comandante do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, sobre a primazia dos EUA na exploração dos recursos econômicos da América do Sul? E sobre os tweets jocosos do senhor Elon Musk, sobre dar golpes de Estado onde e quando for necessário para assegurar o suprimento de lítio para as baterias da Tesla? E, acima de tudo, não estamos falando de um país do outro lado do planeta. A Venezuela é nossa vizinha, e sempre bastou pegar um avião por um par de horas para conferir em tempo real o que está acontecendo no país caribenho.
Até o reino mineral sabe que a deterioração econômica em curso na Venezuela é fruto da sabotagem internacional promovida pelo Hegemon via sanções e sequestro de reservas. Porque então o governo brasileiro decidiu investir seu peso político na promoção da adesão aos BRICS pela Argentina, que obviamente esnobou o convite, ao invés de apoiar a Venezuela? Sem dúvidas, esta seria uma contribuição bem mais construtiva para melhorar as condições da vida no país vizinho.
Estes são questionamentos válidos que todos deveriam se fazer.
A resposta pode estar bem a nossa frente, entretanto. Hoje, o presidente dos EUA, Joe Biden, vai telefonar ao presidente Lula para discutir o posicionamento do Brasil sobre o reconhecimento do resultado oficial das eleições. Aparentemente, teremos que aguardar a conclusão da chamada para descobrir o posicionamento do mandatário brasileiro.
Defeitos do editor de texto e descubro que não há correção
O caso das eleições venezuelanas é esclarecedor. Está mostrando no que a dita esquerda foi transformada. O PT virou um partido de quadros pequeno-burgueses, com forte influência europeia e ianque. Não tem mais a perspectiva de um partido de trabalhadores e pequenos empresários produtivos. Os próximos anos serão muito difíceis na região. Estão vendendo nosso couro para manter o império de pé.
Otimas reflexões, lembro dos textos citados na resposta, em especial o de Montezuma.
Quem acompanhou o DE sabe que Lula é um governo concedido. Preste atenção a todos vice-presidentes, desde Lula 1 e voce vai perceber quem de fato mandava no presidente.
Coincidencia ou não os USA com Bush Jr. não foi diferente.
Hoje Alckmin que representa os sátrapas da opus dei é o vice. Ou seja: saia da linha que o vice assumirá. Quem vai querer perder aquela aposentadoria de R$ 37 mil mensais? Lula já sujou o puleiro por menos, basta lembrar sua omissão em Toninho do PT e Celso Daniel, deixando claro seu caráter.
Uma coisa me intriga QB, no tangente as sanções contra a Venezuela: o monitoramento de navios aberto ao publico pela interent mostrava, ha menos de 1 ano, um navio que tinha como rota exclusiva: Maracaibo -> Texas, Texas -> Maracaibo.
Estou absolutamente envergonhado com a posição do governo brasileiro…
A pergunta que não quer calar: por que Lula precisa dar satisfação ao moribundo? E por que mudou a estratégia que tinha na época de Chavez? É a mesma Venezuela, cobiçada pelos chacais norte-americanos e europeus. Ele não enxerga isso?
Leia:
https://sakerlatam.blog/a-inviabilidade-de-um-governo-soberanista-no-brasil/
https://sakerlatam.blog/perdendo-a-chance-do-seculo/
https://sakerlatam.blog/lula-flerta-com-montezuma/
https://sakerlatam.blog/vitoria-pirrica-ou-derrota-estrategica
não sei se te respondem, mas acredito que podem ajudar a compreender a dimensão do engano
Grato pelo retorno. Concordo (tristemente) com tuas análises. Minha impressão é que seu (dele) maior medo é o rompimento da “coalizão” que permite a governança, e assim vai nos decepcionando. Apesar de que a posição pró palestina é uma boa exceção
Parece que o governo Lula (que decepção o tal de Celso Amorim; irreconhecível! Parece que está mais gagá que o tal do Biden) regateia com a CIA; É preferível que a Venezuela, a Bolívia, Cuba, etc sirvam de boi de piranha, pra vaca brasileira não ir pro sacrifício.
Perfeito.
Curioso viés da crítica centrada nas esquerdas, como está fora um monolito, que historicamente, nunca foi. Outra coisa: o mundo mudou nos últimos vinte anos e muito. Lembro somente o acordo de limitação nuclear que Turquia e o Brasil conseguiram do Irã, e com Armadinejahd e tudo mais. O Grande Sam criticou, e depois mister Obama conseguiu somente a mesmíssima coisa. Na época, houve esperneio do Grande Sam na UN, via Hillary, tendo ali passado o grande e inesquecível recibo da multilateralidade que apenas eles, os do destino manifesto, foram os últimos a ver.
Ou seja, se existem BRICS, se existe a liderança brasileira e mexicana no continente americano, se existe a manezada ensoberbecida e cobiçosa do continente ao norte, cabe moderação e encaminhamento.
Em tempo, aliás os tempos de coach e assemelhados, de dinheiro fácil propalado pelas majors, em golpe em cima de golpe de estelionato massificado, uns mais claros outros nem tanto, tanto o pensamento matricial da igualdade como plenitude da liberdade, quanto e requinte teórico quanto a praxis dos anos de convívio e influência na comunidade internacional que a dupla Lula e Amorim, mesmo de perna amarrada, na pequena área, e sob stress total, ainda fazem gol de placa.
Em tempo II: somente sites de notícias de acesso pago, ex-jornais, não tabelam e infografam que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo.